Confira como foi a visita à Pequena África pelos alunos do 8º ano da tarde

Parte do circuito, o Cais do Valongo foi o maior porto das Américas por onde chegavam os escravizados que vinham da África
Na quinta-feira, 17 de novembro, alunos do 8º ano da tarde fizeram o Circuito Histórico de Herança Africana, criado pelo Instituto dos Pretos Novos (IPN). O circuito fica na Região Portuária do Rio de Janeiro, também conhecida como Pequena África, onde foram encontrados importantes vestígios arqueológicos para a compreensão do processo histórico da diáspora africana e da formação da sociedade brasileira.
Divididos em dois grupos, acompanhados pelos guias do IPN Rafael Moraes e Patrícia Grigori, os alunos iniciaram o circuito pelo Largo da Prainha, no sopé do Morro da Conceição. Ali conheceram a história da primeira bailarina negra do Rio, Mercedes Baptista (1921-2014), que foi homenageada com um busto no local.

Em seguida, começaram a subida do Morro da Conceição, passando pela Igreja de São Franscisco de Assis, que começou a ser construída em 1696 por ordem do Padre Doutor Francisco da Motta. O padre, que era filho de uma escravizada com um homem branco, também dá nome a uma escola no local.

A parada seguinte foi o Beco João Inácio, na altura onde está o Mural de Mosaico Hilário Jovino (1873-1933). O pernambicano que viveu na Bahia antes de migrar para o Rio foi o responsável pela criação do primeiro rancho carnavalesco da cidade, o “Rei de Ouro”. Foi dele também a introdução do mestre-sala e da porta-bandeira nos nos cortejos dos foliões da época.

Samba
Já na Pedra do Sal, os alunos ficaram sabendo que o local onde se fazia o desembarque de carregamentos de sal dos navios que atracavam no porto antes das obras de aterramento foi também o berço do samba carioca. Por ali reuniam-se grandes sambistas, como Donga, João da Baiana, Pixinguinha, entre outros. A Pedra do Sal foi tombada pelo Iphan em 1984 e hoje é um dos locais prediletos de rodas de samba da cidade.

Já no alto do Morro da Conceição, os estudantes conhceram um pouco da história do Morro da Providência, localizado em frente, e que abrigou soldados que lutaram na Guerra de Canudos.
O Jardim Suspenso do Valongo e o cais de mesmo nome também fizeram parte do trajeto. O primeiro se localiza na encosta do Morro da Conceição e está entre as obras de revitalização do Rio realizadas no início do século XX pelo prefeito Pereira Passos. A obra é apontada como parte da política de apagamento da cultura afro-brasileira na cidade.

Unesco
Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 2017, o Cais do Valongo foi o maior porto das Américas por onde chegavam os escravizados que vinham da África. Foi construído em 1811 e fechado em 1831, quando da proibição do tráfico transatrântico de escravizados.
Na última etapa do circuito, o Cemitério dos Pretos Novos, sede do IPN, eram enterrados os cativos que morriam antes de serem escravizados (quando eram vendidos em casas comerciais localizadas no entrono do cais). Acredita-se que entre 40 a 60 mil pessoas foram sepultadas em um espaço do tamanho de uma quadra de futebol society, entre elas uma jovem adolescente, que recebeu o nome de Josephine Bakita. Seus restos mortais são os mais intactos encontrados em escavações que continuam a ser realizadas no cemitério.

O que os alunos acharam da visita
Suelen Camile Honorato (802) disse que aprendeu mais sobre a escravidão no Brasil durante a visita. Sua colega Bárbara Franco comentou que essa era a segunda vez que fazia o circuito e achou a explicação desta vez melhor que a anterior. “Vim com a minha turma do 5º ano, quando estudava no Pedrinho”, informou.

Guido Veríssimo, também da 802, avalia que a visita serviu para ele refletir sobre a importância da história. “Conhecer nosso passado e refletir sobre ele é importante para não repetirmos mais os mesmos erros. Também é uma forma de conhecermos mais sobre a luta dos povos africanos, que ainda não acabou”, ressaltou.

A atividade pedagógica teve como proposta promover a educação patrimonial, segundo a professora de Roberta Martinelli (História). Também participaram da visita os professores Filipe Duret (História), Clarrisa Tagliari (Ciências Sociais), Juliana Marques (Artes Visuais), Carolina Brasil (Matemática) e a assistente de alunos Paloma Marte.
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