Líquidos x Refeições

 

Afinal, podemos ou não beber líquidos durante as refeições? A cada semana ouvimos uma nova versão sobre os diversos aspectos da saúde, principalmente em relação à alimentação e, com isso, as dúvidas acabam permanecendo ou ainda aumentando. A questão de beber ou não durante as refeições é bem simples e, para evitar radicalismos, basta pensarmos um pouco sobre o mecanismo da alimentação...

 

Todos nós já conhecemos quando nosso organismo começa a sinalizar a fome! A barriga ronca e só conseguimos pensar nela... a comida! A partir desse momento já se iniciou o processo de alimentação. Nosso cérebro começa a receber informações e a famosa “água na boca” nada mais é que o aumento da salivação devido aos estímulos de nosso pensamento. Em seguida vem o cheirinho gostoso da comida de verdade e a salivação e a fome vão aumentando...  Quando o alimento chega à boca ele é triturado pelos dentes em pequenas partículas para facilitar a ação das enzimas presentes em todo trato gastrointestinal a partir da boca. É por isso que é tão importante mastigarmos bastante e lentamente. Além disso, durante a mastigação, o cérebro recebe a grande notícia que o alimento já está no organismo e responde com o sinal de saciedade!

 

Nosso trato digestivo produz de 3 a 5 litros de sucos digestivos e enzimas que realizam nossa digestão. Existem muitas pessoas que ainda assim dizem não conseguir comer sem tomar um liquidozinho, afirmando que a comida "desce" muito seca. Imaginem 2 latas de refrigerante ou 2 copos de suco junto a estas substâncias? Seria como diluir o detergente com que lavamos a louça. Nosso estômago desempenha um papel de “liquidificador” que serve para amassar os alimentos que ingerimos tornando-os uma massa que irá para os intestinos. Se colocamos pedaços muito grandes no liquidificador o que acontece? Ele custa mais para bater. E se ele estiver muito cheio os pedaços ficarão grandes. E se colocamos muito volume de líquidos e sólidos no liquidificador o que acontece? Vaza pela tampa ou por baixo se houver um “escape”. Acontece o mesmo com nosso estômago.

 

As enzimas são diluídas modificando o pH e fazendo com que sua atividade fique comprometida. Por exemplo, a pepsina precisa de um meio ácido estomacal para ser formada a partir do pepsinogênio, o que é somente garantido com a ótima secreção de ácido clorídrico (HCl). O mesmo, por provocar a redução do pH estomacal, favorece não somente a melhor digestão, mas otimiza a absorção de ferro, cálcio, piridoxina, zinco, entre outras vitaminas/minerais, utilizadas em diversas reações bioquímicas. A diluição, portanto do ácido clorídrico durante uma refeição com grande quantidade de líquido favorece não somente uma menor eficiência na absorção de vitaminas/minerais, mas um déficit clorido-péptico, contribuindo com uma má digestão protéica e para a ocorrência de sintomatologia digestiva muito referida como distensão abdominal, diarréia/constipação e sensação de plenitude gastrointestinal.



As pessoas que têm necessidade de ingerir líquidos com as refeições normalmente possuem uma baixa ingestão hídrica ao longo do dia e se lembram de beber, já que estão comendo, como se fosse por associação (a hora de comer é também a hora de beber!). A inclusão de líquidos também se deve, em parte a má mastigação, característica bastante comum em pessoas cada vez mais preocupadas, estressadas e com menos tempo destinado à sua alimentação.



Nosso estômago é elástico. Quando comemos, ele se estica. Mas, este "elástico" tem seu limites! Se colocarmos todo dia, além dos alimentos secos, uma grande quantidade de líquidos, o estômago vai esticar demais. Pior do que "empurrar" os alimentos com água ou suco, é tomar refrigerante que além de ser líquido promove o aumento do pH estomacal (que deveria se manter ácido para melhor atividade enzimática) e devido a imensa quantidade de gases, favorece a distensão abdominal. A conseqüência disso é que um estômago mais dilatado precisa de mais alimentos para se saciar. Num determinado momento, a sua elasticidade chega ao fim e ele não volta mais ao tamanho original. A pessoa com um volume gástrico muito grande acaba comendo maior quantidade em busca de maior saciedade e isso pode, a longo prazo contribuir para o ganho de peso.

 

Ao passarem pelo estômago alimentos mal triturados, o próximo encarregado da tarefa será o intestino.

 

Nosso intestino possui uma membrana permeável e sensível sendo ela que permite a passagem dos nutrientes para a circulação sanguínea. Álém disso serve de “barreira” para que os elementos nocivos não passem para nosso sangue. Para isso é importante que ele esteja bem hidratado (consumo de água adequado), que consiga liberar as enzimas e sucos e que estes atuem como deveriam, em pequenas partículas alimentares e não em grandes pedaços de comida. Outras “amigas” que possuímos no intestino são as bactérias que auxiliam na limpeza desta grande área. Para que elas atuem adequadamente é preciso manter boas condições desde a escolha e limpeza dos alimentos até sua mastigação.



Para quem tem hábito de beber líquidos junto com as refeições, tem algumas dicas importantes! A primeira e talvez mais importante é a MASTIGAÇÃO! Como disse antes, produzimos muita saliva que além de ter enzimas digestivas, tem a função de umedecer os alimentos. Quem não mastiga tem a sensação de que a comida está seca mesmo, pois não deu tempo de envolver o alimento na saliva.



A segunda dica é para quem coloca a jarra de suco ou garrafa de refrigerante na mesa para que todos se sirvam à vontade! Nada disso: coloque 1 copo para cada pessoa. Tente comer toda a comida primeiro e depois tomar o líquido bem lentamente, a pequenos goles! Depois de um tempo assim, já é hora de tirar o copo da mesa, mas o ideal seria não tomar líquido nenhum de 30 minutos até 2 horas (que é o tempo de digestão) depois das refeições.


Outra dica é evitar preparações muito secas, não exagerar no sal é fundamental, pois pratos muito salgados dão mais sede. Esse processo pode levar meses, mas é importante tentar. Com o tempo, o líquido não fará falta nenhuma!
Ai surge outra questão... e a vitamina C que todos dizem auxiliar na absorção do ferro? Tirem o suco da mesa e sirvam a fruta de sobremesa!!!

 

Fonte: Nutricionista Ana Patrícia Correia da Silva e Sá (servidora CPII)
Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (UFRRJ)
Especialista em Nutrição Clínica (UGF)
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