O Canal do Panamá ou os ossos que não se veem
Berta Ferrero
Quando você chega ao Canal do Panamá, se dá conta de que nada do que leu até agora se aproxima minimamente da realidade. Hoje foi o primeiro dia de expedição da Ruta Quetzal BBVA depois de uma longa viagem, e nada melhor para desvendar os mistérios de um país do que ir direto ao ponto, àquilo que o simboliza. É majestoso, selvagem e paradoxalmente, um exemplo de coordenação milimétrica.
Os jovens “ruteros” ouviram as explicações da ampliação do Canal com surpreendente interesse num dia que, a priori, era pouco convidativo: cinza, úmido e com algumas gotas de chuva que ameaçavam estragar o passeio. Esse é o clima por aqui entre junho e dezembro. Assusta e encanta ao mesmo tempo. Mas hoje, nada parecia colocar-se entre o Canal do Panamá e essa sede de conhecimento dos jovens.
Essa travessia dos barcos se transformou ao longo de 500 anos no centro da economia do Panamá e seu intercâmbio comercial com o continente americano. Mas a história dessa obra que dá de beber à metade da população panamenha ainda está sendo escrita. Os 80 quilômetros do canal do Panamá estão sendo ampliados com umas eclusas que funcionam como dobradiças que permitem a passagem de navios maiores, numa espécie de elevador. Para conseguir essa façanha, a água e a gravidade são utilizadas. Mágico. É uma estrutura perfeitamente lubrificada que funciona como os ossos do corpo humano: não se vê, mas sabe-se que, sem eles, uma pessoa não poderia caminhar.
Os “ruteros” ficaram boquiabertos diante do que já é oficialmente uma candidatura certa para o prêmio “Príncipe de Asturias”, na categoria de Cooperação. Mas nem tudo hoje foi somente fazer anotações. Já faz 24 horas que os jovens estão juntos e o nervosismo inicial da aventura começa a se desfazer com cânticos já manjados mas, pelo visto, muito divertidos. “¡Camareroooo!” (garçom), grita uma jovem andaluza ao Pepe Reina. “¿Quéee?”, respondem suas companheiras. Logo depois, sem mais nem menos, começam a cantar “Champiñones, champiñones, oe, oe , oe”. De repente, passa a ser “campeones” (campeões) e não se sabe ainda do quê e pouco depois começam a fazer muitos elogios à Ruta Quetzal BBVA.
(Tradução feita pelos professores Alexandre Souza e Patrícia Onofre, do Departamento de Línguas Neolatinas do Colégio Pedro II)